PÓS-OPERATÓRIO DE CIRUGIA CARDÍACA
O paciente submetido a uma cirurgia cardíaca, em grande parte das vezes, necessita de acesso trans-esternal (precisa serrar o osso esterno para acesso ao mediastino e coração). Os procedimentos são realizados com anestesia geral, e consequentemente, é necessário um período de ventilação mecânica ( respiração com a ajuda de aparelhos, pois o paciente anestesiado não respira sozinho).
O QUE PODE ACONTECER NO PÓS-OPERATÓRIO?
A cirurgia cardíaca é uma cirurgia de grande porte, com repercussão sobre todos os órgãos (cérebro, pulmões, rins, fígado, intestinos). Por isso num pós-operatório imediato é necessário um período de controle intensivo (Unidade de Terapia Intensiva) para monitorização e controles de pressão arterial, frequência cardíaca, respiração, débitos de drenos e controle de diurese. As possíveis complicações podem ser:
1. SANGRAMENTOS: como é uma cirurgia que envolve vasos e cavidades onde circulam o sangue, o sangramento por vezes pode estar presente. São colocados drenos no local cirúrgico para o controle desse débito. Cirurgias prolongadas, com uso de circulação extra-corpórea, podem provocar distúrbios de coagulação que aumentam esses riscos. Também alterações da pressão arterial podem contribuir com sangramentos dos locais aonde foram realizadas suturas (anastomoses);
2. ARRITMIAS: como o coração é manipulado, por vezes "parado" para a realização das cirurgias, as alterações da frequência cardíaca podem acontecer. Presença de batimentos ectópicos (extra-sístoles) e Fibrilações (atrias e ventriculares) são comuns e devem ser controladas de imediato para que se evitem possíveis alterações no fluxo sanguíneo com lesões e complicações graves;
3. ALTERAÇÕES DA PRESSÃO ARTERIAL: o coração submetido a cirurgia, de acordo com sua gravidade, apresenta alterações de contratilidade o que influencia nas alterações da pressão arterial. Hipotensão e hipertensão podem ocorrer, e devem ser controladas com uso de medicamentos endovenosos;
4. ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: o "derrame" pode acontecer por origem embólica (pacientes submetidos a troca valvares que apresentam muita calcificação nessas ou presença de coágulos nas cavidades) ou por origem hemorrágica (alterações de coagulação ou ruptura de vasos cerebrais por picos hipertensivos);
5. INFECÇÕES: Os pacientes submetidos a cirurgia cardíaca, em grande parte, já estão com sua saúde debilitada e sua imunidade rebaixada. O procedimento cirúrgico piora ainda mais essa situação ,podendo aumentar o risco de infecções respiratórias (pneumonias), de pele ou até infecções graves envolvendo o local cirúrgico (mediastinites);
6. MORTALIDADE: As cirurgias cardíacas são cirurgias de alta complexidade e os pacientes, de acordo com seu estado geral e comorbidades, apresentam riscos aumentados de mortalidade. Esses riscos variam de 1 a 5% e aumentam nos casos de gravidades maiores e cirurgias emergenciais.
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS
O paciente submetido a cirurgia cardíaca terá um período de reabilitação para o retorno às suas atividades normais.
1. FISIOTERAPIA E ATIVIDADE FÍSICA: Enquanto internado, fará fisioterapia respiratória e motora e receberá as orientações para sua realização pós alta hospitalar. A atividade física com caminhadas deve iniciar ainda com o paciente internado. Isso ajuda na reabilitação pulmonar, evitando acúmulo de secreções, tosse, aumento da dor e riscos de infecção. No período de 3 (três) meses o paciente não poderá realizar esforço físico com os braços (levantar mais do que 3 (três) quilos). Isso inclui também NÃO DIRIGIR. Esse é o período de cicatrização óssea;
2. CUIDADOS COM AS FERIDAS: Os curativos devem ser trocados diariamente em ambiente hospitalar, e em casa, as feridas operatórias serão limpas com água corrente durante o banho, secadas individualmente após e se necessário ocluídas com curativos. Na grande maioria das vezes, o curativo só será usado nos primeiros dias, devido ainda a presença de pequenos sangramentos. No aparecimento de secreções purulentas, o médico deve ser avisado imediatamente para a orientação dos cuidados adequados;
3. ALIMENTAÇÃO: Nesse período é comum a anemia. Ocorre pela perda sanguínea durante o procedimento cirúrgico. Provoca fraqueza e falta de apetite. Pode acompanhar dificuldade para respirar e frequência cardíaca alta. Ainda internado, de acordo com os exames, será avaliado a necessidade ou não de transfusão sanguínea. Na dieta para alta ,o importante é o consumo de alimentos ricos em ferro (feijão, folhas verdes, carne), com pouco sal (que provoca edemas/inchaços) e pouca gordura (que aumenta a viscosidade sanguínea e o esforço cardíaco). Deve-se ter uma alimentação fracionada (pouco várias vezes ao dia) para a melhora do trânsito intestinal. Líquidos: deve se dar preferência para a água e sucos naturais (frutas frescas) e a quantidade será orientada caso a caso (pacientes com disfunção cardíaca devem evitar o consumo excessivo de líquidos).
4. MEDICAMENTOS: os pacientes serão orientados quanto ao uso dos medicamentos. Na sua maioria serão de USO CONTíNUO, e por isso, necessitam de seguimento e consultas periódicas para regulação de doses ou até mudanças.
5. ACOMPANHAMENTO: é necessário o retorno com seu cardiologista clínico de IMEDIATO. Esse fará o controle dos medicamentos e se necessário o encaminhamento de retorno para a equipe cirúrgica.
O tempo de melhora varia de paciente para paciente, dependendo claro, da gravidade e tipo de cirurgia. Mas depende também do esforço pessoal. O médico orienta e medica, familiares ajudam nos cuidados, mas a força de vontade individual do paciente submetido a um procedimento cirúrgico é fundamental para sua recuperação. É comum, principalmente em pacientes mais idosos, períodos de DEPRESSÃO que, por vezes, necessitam de tratamento medicamentoso.
IMPORTANTE: ACOMPANHE SEU MÉDICO, TIRE SUAS DÚVIDAS, SIGA AS ORIENTAÇÕES!
Dr Ricardo Schneider